Testemunho de uma mãe
Sou professora do ensino secundário e há um tempo atrás foi-me atribuído um horário que não me permitia o acompanhamento do meu filho. Requeri por isso à escola que me fosse atribuído outro horário, expondo as minhas razões (assistência ao meu filho com doença reumática juvenil).
Em resposta, a escola disse que me teria de sujeitar à lei geral aplicada a toda e qualquer criança. Escusado será dizer que durante esse ano lectivo tive de faltar muitas vezes, faltas essas que muito me sancionaram na progressão da minha carreira. Fiquei revoltada com esta penalização e acho que este estado de coisas tem de acabar. Os pais destas crianças não podem andar a ser penalizados ou a mendigar um direito que lhes assiste, que é a assistência inadiável e imprescindível aos seus filhos doentes. Por isso acho que nestes casos devem ser criadas leis específicas que protejam estas crianças.
Mesmo em relação às escolas há que fazer algo mais, para que passem a lidar com estas crianças de outra forma e se acabe o autismo a que se tem assistido.
Passo a relatar o caso do meu filho: no passado ano lectivo encontrava-se a frequentar o 7º ano de escolaridade. No início do ano foi entregue o atestado médico por causa da disciplina de Educação Física. Apesar disto, o professor teve um comportamento no mínimo incompreensível e altamente reprovável, pois não só traumatizou o meu filho fazendo com que ele começasse a fugir das aulas, como também o penalizou chegando ao ponto de lhe dar negativa no 1º e 2º períodos, apesar de na parte teórica da disciplina ter avaliação positiva. Isto deve-se, é claro, à execrável lei que exige a presença dos alunos nas aulas de Educação Física, embora dispensados da parte prática das mesmas. Também aqui há que mudar muitas coisas porque o que se está a fazer na prática não serve para ajudar nada, antes pelo contrário.
Em virtude do estado psicológico em que o meu filho se encontrava, tivemos de recorrer a uma psicóloga exterior à escola , que muito o tem ajudado e até a nós, pais. Essa psicóloga concluiu também que ele se encontra no grupo de crianças ditas “ sobredotadas“, o que também acarreta grande incompreensão por parte das escolas, pois aqui e mais uma vez a ignorância e a falta de formação das pessoas é muita.
O meu filho foi assim muito pressionado pela escola em todos os sentidos, não havendo o mínimo respeito pelo seu estado emocional, estado esse que, segundo penso, muito contribuiu para o despoletar de uma crise precisamente na altura de maior tensão.
É realmente revoltante constatar que a escola se demite das suas responsabilidades e funções e em vez de formar, “desforma”. Escusado será dizer que tive de transferir o meu filho da escola onde estava para a escola Emídio Navarro, em Almada.
Nós, os pais, lamentamos toda esta situação e sentimo-nos impotentes perante o sistema, mas não iremos cruzar os braços e continuaremos a lutar para abanar as consciências e para que este estado de coisas se inverta completamente.
Peço desculpa pela exaustão e agradeço desde já toda a atenção dispensada, fazendo votos e força para que todos juntos consigamos uma vida e um futuro melhor para as nossas crianças.
Maria de Lurdes (mãe de um sócio da ANDAI)