Histórias e Lendas
O sapo mágico
Era uma vez uma menina...parecida com tantas meninas que todos nós conhecemos. Tinha uns olhos grandes e vivos, um narizito arrebitado e um sorriso muito, muito alegre.
- Estou a falar contigo! Podias ser bem-educada e ao menos responder-me, não achas?
À tarde todos os meninos apareceram na mesma e ela disse-lhes que se podiam ir embora porque já não sabia mais truques e não podia correr nem brincar como eles...Os meninos olharam uns para os outros e pensaram que não se queriam ir embora. Afinal era tão agradável estar ali com aquela amiguinha de que tanto gostavam! Indecisos, ficaram calados, sem se moverem, até que um deles disse de repente, timidamente:
A menina aprendera a Magia da Amizade!Carta ao David
(Carta a um menino, doente crónico, que se chama David, mas poderia chamar-se João, André, Paulo ou qualquer outro nome).
David,
Decidi escrever-te, agora que já sabes ler sozinho, porque eu gosto muito de histórias e naturalmente ainda ninguém te contou a história do Rei David, que dizem ser verdadeira.
Há muitos, muitos anos, havia um rei que andava muito triste e só lhe apetecia chorar, porque tudo lhe corria mal e tinha muitos inimigos. Então, um amigo do rei decidiu ir à procura de alguém que fosse capaz de curar aquela tristeza. Apresentaram-lhe muitos rapazes, altos, alegres e fortes, mas o amigo do rei sabia que precisava de alguém muito especial para ser boa companhia para o rei.
Por fim lembraram-se de um jovem pastor, que se chamava David. David era um rapaz de aspecto frágil, mas muito simpático. Andava sozinho pelos campos com as suas ovelhas e tinha aprendido a defendê-las dos lobos e dos ursos.
Como era muito amigo da Natureza e dos animais andava sempre contente. Enquanto as ovelhas pastavam costumava sentar-se debaixo de uma árvore ou em cima de um rochedo, a tocar harpa.
O amigo do rei, quando viu o David disse logo: "É mesmo este rapaz, que não tem medo de estar sozinho, que é valente e corajoso e anda sempre contente, que o meu rei precisa de conhecer." E levou David ao rei.
O rei, que se chamava Saul, ao ouvir David tocar a sua harpa e ao ver que ele era apenas um rapazinho mas que não tinha medo de nada, fez logo de David o seu escudeiro e ao pé dele não se sentia nunca triste.
Porém, os inimigos do rei Saul não desistiam de lhe fazer mal. Arranjaram um gigante enorme, que se chamava Golias e todos os dias o gigante, armado da cabeça aos pés, aparecia na terra do rei Saul e metia medo a todos gritando: "Quem é o homem que é capaz de lutar em duelo comigo? " E todos fugiam cheios de medo, enquanto o gigante Golias se ria e chamava cobarde ao rei e a todos os habitantes do reino.
Um dia, David, que vinha a chegar do campo de ao pé das suas ovelhas, viu o gigante Golias e pensou: " Isto não pode continuar. Vou combater eu. Não tenho medo. Eu já lutei com leões, ursos e lobos para defender as minhas ovelhas. Agora vou lutar para defender o rei, que é meu amigo."
Todos acharam que David estava maluco. Ele era pequeno e o gigante deitava-o ao chão só com uma bofetada. Mas o rei, que conhecia a força especial de David, vestiu-lhe a sua própria armadura e disse-lhe: "Vai, e que Deus esteja contigo! "
David tentou ver se podia andar com aquelas armas a que não estava habituado e que eram muito pesadas para ele. Como não se conseguia quase mexer com o peso da armadura, tirou tudo e foi tal como costumava andar no meio das ovelhas. Apanhou, ao pé de um regato, cinco pedrinhas lisas, meteu-as na sua bolsa e foi ter com o gigante Golias apenas com o seu cajado de pastor.
Quando o gigante o viu, tão pequeno e desarmado, desatou-se a rir e perguntou-lhe: "Sou algum cão para vires contra mim com um pau na mão? " Respondeu-lhe David: "Tu vens para mim armado de espada, lança e escudo; eu, porém, vou para ti com a força da alegria e o Amor que tenho no meu coração! "
Furioso, o gigante avançou contra David. David, num instante, meteu a mão à sua bolsa, tirou uma pedrinha e com uma fisga, atirou -a à cabeça do gigante, que caiu logo morto.
Foi grande a alegria no reino do rei Saul.
Depois de muitas aventuras, David casou-se com a princesa e tornou-se um dos reis mais importantes de todos os tempos.
Sei que tu às vezes deves andar aborrecido por teres que ir tantas vezes ao hospital, estares doente e faltares à escola. Mas também tenho a certeza que, por isso mesmo, deves ser o rapazinho mais valente e corajoso de todos os meninos da tua idade. Porque, como David, aprendeste já, sozinho, muitas coisas que os outros meninos não sabem. Não tenho razão?
David mostrou que não é preciso ter muita força nos músculos, nem ser um gigante para vencer. É preciso é usar a inteligência, ser VALENTE, como tu tens sido, e acreditar que com a ajuda da força da Alegria e do Amor de Deus podemos vencer muitas dificuldades que aos outros metem medo.
Um beijo grande para ti, que te chamas David, João, André, ou tens qualquer outro nome, mas aprendeste a superar todos os dias as tuas dificuldades.
Fernanda Ruaz
As três peneiras
O pequeno Raul saiu da escola a correr, chegou a casa excitado e ao beijar a mãe, exclamou:
-Já sabes o que dizem do António?
- Espera lá, já me contas; mas antes de principiares lembra-te das três peneiras...
- Quais peneiras, minha mãe?
- A primeira chama-se VERDADE.
- Tens a certeza de que é certo o que me queres dizer?
- Não; se é certo, não sei.
- Vês?
- E a segunda, chama-se BENEVOLÊNCIA. Será benevolente, será boa, essa noticia que me trazes?
- Não, minha mãe, não é boa.
- Vês?
- E a terceira chama-se NECESSIDADE. Será necessário repetires-me tudo isso que te contaram desse teu camarada e amigo?
- Não, minha mãe.
- Pois se não é necessário nem benevolente, e talvez nem seja verdade, é preferível meu filho, calares a tua boca.
( António Botto) Histórias para Crianças
Poeta Português - 1897