Dores de Crescimento
Dores de Crescimento
Existem “dores de crescimento” (DC)?
As denominadas “dores de crescimento” das crianças são dores reais e poderão ser muito incomodativas. São o principal motivo de dores nos membros inferiores em idade pediátrica, iniciando-se em idades muito variáveis entre os 2 e os 12 anos de idade.
Uma em cada 10 crianças saudáveis refere ocasionalmente, dores nos membros inferiores, mas menos de metade delas têm queixas suficientemente importantes e frequentes para justificarem consulta médica.
Porquê este nome?
As DC foram assim denominadas por um médico francês, há mais de 170 anos. Na falta de melhor designação, vai-se mantendo este nome que, embora incorrecto, deixa implícito o seu carácter benigno e transitório.
O crescimento faz doer?
Não. O crescimento não provoca dores. Nos períodos de maior crescimento (nos dois primeiros anos e na puberdade), regra geral não existem dores de crescimento. E os membros superiores e a coluna também crescem e não são locais habituais destas queixas.
Qual a causa das dores de crescimento?
Não se sabe. Existem várias teorias, mas nenhuma explica cabalmente estas crises de dores.
Como é que são as dores de crescimento?
As DC têm um quadro clínico bastante característico na localização, no horário, na duração das crises. Localizam-se em ambos os membros inferiores (nas coxas, na face anterior ou na barriga das pernas). Em geral não envolvem as articulações (algumas crianças queixam-se atrás ou à frente dos joelhos e, outras nas virilhas) mas envolvendo também as zonas peri-articulares. De forma muito característica, as crianças não apontam zonas dolorosas com os dedos, mas antes deslizam a palma sobre as mesmas.
As dores surgem ao fim do dia ou à noite, antes de ir para a cama, ou durante a primeira metade da noite. Quando surgem de noite, a criança acorda aos gritos. Felizmente os episódios nocturnos além de serem únicos (por vezes dois), são de curta duração (raramente duram mais de 20-30 minutos) e aliviam com a massagem. De seguida as crianças voltam a adormecer e, na manhã seguinte, ao levantar-se, não manifestam nenhuma queixa e nunca claudicam.
Como é que se distinguem as dores de crescimento das dores provocadas por doenças graves?
São muitas as causas de dores nos membros inferiores. Deverão evocar outro diagnóstico: a presença de qualquer tipo queixa pela manhã ao levantar (dor, inchaço, articulação presa, claudicação); existirem outros sintomas para além das dores; dores são bem localizadas; dores referida a num só membro e no mesmo; dores que surgem durante os esforços; presença de queixas durante várias horas ou contínuas; modificação das características das dores.
Qual a frequência das crises de dores?
As crises das DC ocorrem a intervalos muito variáveis. Podem ocorrer uma vez por dia ou uma vez por noite, durante vários dias ou várias noites por semana e durante várias semanas. Depois desaparecem durante algum tempo, repetindo-se novamente passadas algumas semanas e sempre com as mesmas características.
Que exames complementares se justificam para se ter a certeza do diagnóstico?
Não existem exames que permitam fazer o diagnóstico de DC. Aliás quando realizados, os exames são sempre normais. Alguns médicos recomendam a realização de alguns exames para excluir outras doenças. Contudo, se as queixas forem típicas, os médicos experientes prescindem de exames, optando por uma vigilância regular, mais apertada no início. Mas será de os realizar se existir alguma dúvida.
Que formas de tratamento existem?
O essencial será acalmar a criança e os pais. Algumas crianças beneficiam com a massagem das zonas dolorosas com um qualquer creme ou pomada ou com um pano, de forma a produzir calor localmente. Em geral será o suficiente.
Dado que a dores são de curta duração, na larga maioria dos casos não se justifica administrar qualquer medicamento. Nos casos mais prolongados poderá administrar-se o paracetamol ou outro analgésico. Se as queixas forem nocturnas e muito frequentes, poderá tentar-se administrar-se um analgésico ao adormecer.
As dores de crescimento podem prevenir-se?
Não. Mas existe uma descrição médica de que a prática de alguns exercícios e massagens nos músculos das pernas e das coxas, realizados passivamente pelos pais, duas vezes por dia, poderão reduzir o número de crises. Mas só excepcionalmente haverá necessidade de se tentar esta medida.
Durante quanto tempo as crises das dores de crescimento?
Durante algum tempo as crises podem ser frequentes. Contudo, progressivamente, e na quase totalidade dos casos, as crianças deixam de se queixar. Na maioria dos casos as crises de dores desaparecem em menos de 2 anos de evolução.
As dores de crescimento deixam “marcas” para o futuro?
Não. As DC são benignas. Mas algumas destas crianças ficam sem dores nos membros e passam depois a terem crises de dores abdominais e/ou de dores de cabeça.
Manuel Salgado – Consulta de Reumatologia Pediátrica
Hospital Pediátrico Coimbra