DRJ e Educação Física Escolar

 

Prof Jose Fernandes                    A DOENÇA REUMÁTICA JUVENIL E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR.
 
Ser professor é uma actividade extremamente gratificante, apesar dos muitos entraves na educação. Acredito que o caminho é procurar incessantemente, não desistir, persistir, não se “demitir” de educar e, onde existem entraves, construir oportunidades, na procura de soluções possíveis e concretas com um único objectivo: o aluno.
A escola deve assumir a sua função inclusiva, não excluindo nenhum aluno por dificuldades ou aptidões insuficientes, sem considerar as suas possibilidades.
 
O Portal da Saúde do ministério da saúde define as doenças reumáticas como “alterações funcionais do sistema 
musculoesquelético de causa não traumática.” Manifestam-se sobre a forma de dor articular, inflamação articular, rigidez articular (sensação de “prisão” dos movimentos): geralmente aparece pela manhã e vai desaparecendo progressivamente à medida que o doente exerce a sua actividade diária. A sua duração e intensidade são variáveis.
 
Outros sintomas são o cansaço, a febre e as dores no corpo. Estas manifestações limitam a mobilidade provocando incapacidade funcional. Neste caso concreto é uma condicionante/limitação da aprendizagem a ter em conta na acção pedagógica do professor na aula de Educação Física e na determinação dos objectivos a atingir.
Neste sentido, os alunos com doenças reumáticas podem estar ao abrigo do Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro, visto serem alunos com Necessidades Educativas Especiais de carácter Permanente (NEEP), ou podem ver o seu processo de ensino aprendizagem alterado (seja ela ao nível das competências seja ao nível da avaliação).
 
Em ambos os casos é fundamental a apresentação de um atestado e relatório médico. Estes devem explicar os exercícios e/ou actividades físicas que, por serem benéficas, podem ser praticadas sem contra-indicação e os exercícios e/ou actividades físicas que não podem ser realizados. 
 
Caso seja enquadrado no Decreto-Lei 3/2008 de 7 de Janeiro, será abrangido pelas seguintes alíneas do artigo 16º:
a) Apoio pedagógico personalizado – apoio dado pelo professor da turma, na própria aula, como reforço das medidas educativas;
b) Adequações curriculares individuais – Introdução/adequação de objectivos e conteúdos intermédios em função das competências terminais do ciclo;
d) Adequações no processo de avaliação – Podem consistir na alteração do tipo de provas, dos instrumentos de avaliação, bem como das condições de avaliação. 
 
 
IMPORTÂNCIA DO FACTOR COMUNICAÇÃO / ADEQUAÇÃO
 
Segundo Queiroz (1998), o tratamento da artrite crónica juvenil está estruturado por fases, sendo que a “educação da criança, dos pais e dos professores…” surge com especial relevo e em primeiro lugar.
Ressalta-se a importância da comunicação entre os diferentes intervenientes no sentido de optimizar as estratégias de tratamento e a consolidação dos objectivos.
 
 
O mesmo autor afirma a importância da manutenção da posição e da função das articulações e de um plano de exercícios a ser efectuado diariamente sob supervisão (pais, professores) onde muitas vezes é necessário o apoio do fisioterapeuta, ressalvando a importância da Educação Física como disciplina também preventiva e de educação para a saúde e autonomia do próprio aluno.
 
A comunicação médico/professor ganha aqui especial importância. Ao professor interessa saber as limitações e potencialidades dos alunos de modo a estabelecer os objectivos e ter conhecimento do tratamento adaptado a cada um dos casos.
Ao médico interessa saber de que modo vai ser desenvolvida uma das medidas preventivas que contribuem para o tratamento das doenças reumáticas, que é o exercício devidamente adaptado e aplicado. Nesta comunicação, em casos extremos, podem ser incluídos os fisioterapeutas.
 
Por outro lado, as doenças reumáticas de um modo geral criam “stress” psicológico na família e podem causar perturbações nas actividades dos alunos e no seu desenvolvimento escolar. Em todo o processo é fundamental o bom senso do professor no sentido de adaptar as suas estratégias, regulando a actividade às limitações físicas e factores emocionais do aluno.
Tanto o director de turma como o professor de Educação Física devem auxiliar a família transmitindo confiança e compreensão ecertificando-se que o aluno terá um desenvolvimento escolar e social tão normal quanto possível. 
 
 O professor deve ter em consideração que:
 
•É um aluno com algumas limitações físicas e por vezes sujeito a ausências frequentes;
•Nas crises de dor o professor deve conhecer a forma adequada de actuar pelo contacto prévio com o Encarregado de 
 
Educação;
•Regra geral, articulações que doem devem ser mantidas em descanso;
•A artrite pode ocasionar problemas emocionais tanto quanto físicos e isso pode interferir na escola e no seu 
desempenho;
•A exigência deve ser adaptada no sentido de manter o aluno com doença reumática ao nível dos outros;
•Não expor as limitações físicas do aluno perante a turma; 
•Tentar equilibrar as necessidades especiais da criança com as exigências de ser tratada tão normal quanto possível;
•No decorrer da aula de existem alguns factores externos que podem condicionar a prática a alunos com doenças reumáticas, tais como o clima, a rotação dos espaços, o horário da aula e os materiais.
A avaliação inicial é uma etapa extremamente importante de avaliação diagnóstica (o que sabem), prognóstica (o que devem aprender) e preditiva (o que devem alcançar), o que permite identificar o nível inicial da turma e de cada aluno em particular relativamente ao nível em que se encontram no programa de Educação Física e do próprio plano plurianual de escola. 
 
Na avaliação inicial é importante um conhecimento das limitações motoras dos alunos. 
Cabe então ao Professor após “comunicação” com o médico e após a avaliação inicial, estabelecer um conjunto de objectivos a serem alcançados no final do ano lectivo pelo aluno. Estes objectivos devem naturalmente ser “discutidos” com a família de modo a envolvê-la no próprio processo de aprendizagem e avaliação. O próprio aluno deve ser envolvido neste processo de modo saber claramente quais os objectivos e expectativas para o ano e de modo a regular a sua própria auto-avaliação. 
 
 
A AVALIAÇÃO
 
Um dos momentos críticos em alunos com doenças reumáticas em Educação Física é a avaliação, visto que a classificação conta para a média de acesso ao ensino superior.
 
A avaliação é um processo fundamental que permite verificar o domínio/demonstração de um conjunto de competências que decorrem dos objectivos gerais. De uma forma geral, as escolas determinam os seus critérios de avaliação segundo os seguintes parâmetros:
 
1.Saberes e competências - engloba as três grandes áreas de avaliação específicas da Educação Física contidas nos programas nacionais de Educação Física (actividades físicas, aptidão física e conhecimentos);
 
2.Hábitos de trabalho;
 
3.Atitudes e valores.
 
Em algumas escolas, os saberes e competências podem estar separados e/ou ter outra designação, mas referem-se à parte prática e, como tal, têm o maior peso na avaliação (mais do que 50% da avaliação).
 
Nos casos de alunos com doenças reumáticas, seja com atestado/relatório médico, seja ao abrigo do Decreto-Lei 3/3008 de 7 de Janeiro, torna-se fundamental a adaptação desses critérios, no sentido de promover o sucesso do aluno e uma real igualdade de oportunidades.
 
Apesar de não ser um cenário ideal, em alguns casos extremos, a avaliação das aprendizagens destes alunos, na componente prática, pode ser excluída dos critérios de avaliação, sendo substituída por aplicações práticas realizadas essencialmente através de relatórios de aulas, fichas formativas, trabalhos escritos e de observação de comportamentos nas aulas (arbitragens nos jogos, ajudas na ginástica, demonstração de aprendizagens ligadas às componentes do currículo de carácter transversal, etc.), imperando o “bom senso” no que respeita às adaptações curriculares.
 
Em nenhum momento se pode descurar a importância da atitude de empenho, perseverança, esforço e autodisciplina do aluno.
 
BENEFÍCIOS DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM CONTEXTO ESCOLAR
 
A prática de exercício físico moderado é muito recomendada por médicos e fisioterapeutas, não somente para fortalecer os músculos e ossos e aumentar a flexibilidade, como também para ajudar manter um peso adequado, o coração e os pulmões saudáveis, e uma sensação de bem-estar geral. 
 
Os alunos com doenças reumáticas podem vir a beneficiar de uma melhor postura, fortalecendo o corpo de forma equilibrada, melhorando a capacidade física e a saúde, reduzindo e prevenindo a inflamação nas articulações. Beneficiam ainda do controlo do peso, prevenção / redução da osteoporose, redução do risco de desenvolver dores lombares, ajuda ao crescimento e manutenção de ossos, músculos e articulações saudáveis, e promoção do bem-estar psicológico, redução do stress, ansiedade e depressão;
 
O aluno não deve, porém, exceder as suas possibilidades pois, neste caso, o efeito seria negativo.
Exercícios adequados são um precioso auxílio psicológico para o aluno se sentir como mais um membro da turma, contribuindo para o seu bem-estar emocional e para a sua auto-estima. 
 
Ressalva-se o papel crucial da disciplina de Educação Física porque é o “meio gratuito” e obrigatório de garantir de forma adequada a prática desportiva e a educação motora a TODOS os alunos. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
O papel do professor de Educação Física reside em aproximar o aluno das competências a adquirir. O centro de interesse da Educação e da Educação Física é a interacção professor / aluno e não apenas o aluno. 
 
Assume-se que alunos com doenças reumáticas são alunos com características e necessidades próprias que têm de ser incorporados numa escola democrática e inclusiva e onde o professor assuma a diversidade de características e necessidades destes alunos, individualizando e personalizando as estratégias educativas, assumindo a pedagogia diferenciada, sem nunca pôr em causa a aquisição das competências terminais de ciclo e no Ensino Secundário.
 
Reforça-se o papel do médico na referenciação destes casos e na apresentação do atestado médico e relatório médico detalhados, apontando os factores de risco associados, as limitações ou incapacidades e explicando os exercícios e/ou actividades físicas que, por serem benéficas, podem ser praticadas sem contra indicação e os exercícios e/ou actividades físicas que não podem ser realizados.
 
Reforça-se também o papel fundamental da comunicação entre Professores, Família e Médico no sentido de determinar os objectivos anuais. 
Esta comunicação estende-se ao aluno no sentido de estabelecer os seus objectivos, “negociando” o caminho a percorrer e as metas a atingir, incluindo o aluno no processo e motivando-o para o seu desenvolvimento.
 
As adequações curriculares em contexto de aula são uma consequência das limitações dos alunos, imperando a sensibilidade do professor e o seu bom senso no sentido de dar igual oportunidade aos alunos para obterem sucesso na educação que se reverta nas classificações, adequando naturalmente o currículo às reais capacidades dos alunos. 
Destaca-se também o papel fundamental da Escola, dos Professores e da Educação Física pelo seu carácter específico, no desenvolvimento escolar, social e emotivo, contribuindo para o desenvolvimento da auto-estima e servindo de suporte emocional.
 
A nível da educação, é necessário que um Professor se apresente como “Homem todo”, se debruce sobre o “todo do Homem”, pretendendo-se com isto que o professor total deve assumir, contínua e plenamente, a responsabilidade pelo evoluir dos seus alunos.
 
Prof. José António Fernandes
 

 

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